quarta-feira, 21 de setembro de 2016

TEXTUALIDADE E COESÃO - 2º ANO


TEXTUALIDADE, COESÃO TEXTUAL E SEUS OPERADORES


 

Um texto não é uma sequência de sentenças, mas um encadeamento semântico delas, criando uma rede de sentido, a que damos o nome de textualidade. A esse encadeamento damos o nome de coesão. Em um texto falado podemos recuperar informações através de vários mecanismos, como o gesto, o tom da voz, o olhar. Em um texto escrito, esses recursos não estão disponíveis, portanto é fundamental que o encadeamento das sentenças seja preciso.

 

Uma textualidade supõe o entendimento claro do que se está querendo dizer, mas a língua dispõe de amplos recursos para construir essa textualidade de forma mais enxuta e coesa. Trata-se dos mecanismos de coesão.

 

Tomemos como exemplo duas sentenças simples:

 

Pegue as frutas. Coloque as frutas no carrinho.

 

O falante pode recuperar a informação sobre quais frutas são apontando para elas, por exemplo. Suponhamos que houvesse várias frutas, umas próximas ao falante, outras distante dele. Em um texto escrito seria fundamental que se determinasse através de um mecanismo de coesão a quais frutas estamos nos referindo:

 

Pegue aquelas frutas. Coloque as frutas no carrinho.

 

Esse procedimento, ainda que correto torna desagradável a leitura que se pretende fluida. Assim, faz parte do processo coesivo a adoção de uma estrutura mais enxuta, evitando repetições desnecessárias à textualidade.

 

Veja agora:

 

Pegue aquelas frutas. Coloque-as no carrinho.

 

Repare que o termo “frutas” foi recuperado pelo pronome “as”, deixando o texto mais enxuto, mais fluido, sem perder a sua clareza.

           

Vejamos alguns mecanismos de coesão:

 

Referência:

A coesão se estabelece fazendo referência a algum elemento já mencionado ou ainda por se mencionar. No exemplo anterior, o pronome “as” retoma o substantivo a que se faz referência. É a chamada referência anafórica. Veja um outro tipo de coesão referencial:

 

O time só pensava nisto: a conquista do campeonato.

 

Repare que o pronome “isto” só faz sentido se recuperado pela sentença posterior: “a conquista do campeonato.” A coesão se estabelece não pelo foi dito, mas pelo que se está por dizer. É a chamada referência catafórica.

 

As palavras responsáveis por esse tipo de coesão são os pronomes, que podem ser pessoais, possessivos ou demonstrativos, os advérbios de lugar e os artigos definidos. Veja esses exemplos:

No bar, Leticia pediu uma cerveja. A cerveja, no entanto, estava quente.

 

Veja que se substituíssemos o artigo definido por um indefinido, o texto não faria sentido:

 

* No bar, Leticia pediu uma cerveja. Uma cerveja, no entanto, estava quente.

 

 Veja:

 

Daniel esteve, ontem, em Brasília. Na referida cidade, o mesmo disse que a política continuava instável. 

 

Poderíamos tornar esse segmento mais coeso:

 

Daniel esteve, ontem, em Brasília. Lá, ele disse que a política continuava instável.

 

Ao escrever essas sentenças percebemos que o pronome “ele” poderia ser suprimido. É um outro mecanismo de coesão:

 

Elipse:

Estabelece-se quando algum elemento do texto é omitido:

 

Daniel esteve, ontem, em Brasília. Lá, (ele) disse que a política continuava instável.

 

Coesão lexical:

Trata-se do efeito obtido pela seleção vocabular ao se repetir o item lexical, substituindo-o por um sinônimo, um hiperônimo, ou ainda, um nome genérico. Veja:

 

Aquele menino foi bem no teste. O garoto parecia, de fato, preparado.

 

Os ladrões correram para dentro do supermercado. Lá, os criminosos foram detidos pela polícia.

 

As crianças se assustaram com as pegadas no chão. Quando se deram conta, viram a coisa atrás da porta.

 

Um tipo de coesão lexical é a nominalização, que transforma um verbo em substantivo, estabelecendo a coesão textual:

 

É preciso transformar a sociedade. Tal transformação começa com o incentivo à cultura e à educação.

 

Conjunção ou Conexão:

Estabelece uma correlação entre o que está para ser dito e o que já foi dito anteriormente travando uma relação de sentido qualquer.

 

Murilo estava sem dinheiro e pediu dinheiro ao banco.

 

Murilo pediu dinheiro ao banco, mas não conseguiu pagar.

 

Como não conseguiu pagar o dinheiro, Murilo perdeu o seu crédito.

 

 

EXERCÍCIOS


 

1.      Os trechos abaixo apresentam deficiência coesiva. Reescreva-os, de modo a torná-los coesos.

 

a)      “Muita gente votou nas últimas eleições. Muita gente pensava que as coisas iriam mudar radicalmente, mas muita gente estava enganada. O Brasil parece que levará ainda um tempo muito grande para amadurecer. O que o Brasil precisa, entretanto, para chegar a ficar maduro é manter arejada e viva a democracia.”

 

b)      “O projeto Rio Cidade prejudicou o transeunte carioca com seus buracos e postes. No entanto, o Rio Cidade gastou milhares de reais dos cofres públicos enquanto a prioridade devia ser as favelas...”

 

c)      “ O melhor exemplo a ser seguido é o dos pais para a formação dos filhos. A melhor formação dos filhos vem de casa pelos pais.”

 

d)     “Os meios de comunicação, aliados ao desejo de muitos pais em tornar seu filho uma pessoa bem preparada para o futuro, acabam impondo a este a necessidade de praticar um grande número de atividades.”

 

e)      “Para todos nós, jovens decididos e indecisos, a sociedade como um todo vai influenciar na nossa formação.”

 

f)       “Desde criança, a família tenta dar uma criação ao seu filho. Depois vem a consciência individual de cada um...”

 

2.      Em cada item abaixo há no mínimo duas orações. Reúna-as em um só período de forma mais coesa possível, mantendo a relação de sentido.

 

a)      O Fluminense empatou no domingo. A torcida do Flu estava irada. A torcida quebrou o alambrado.

 

b)      Existem muitos governos. Há a promessa da eterna reforma agrária. Uma imensa massa de trabalhadores fica prejudicada. A reforma não sai do papel. A paciência dos trabalhadores esgotou.

 

 

 

 

 

 

PARA DIA 06/10

 

TEXTO I

A Bic e o socialismo

 

            É moda dizer que o socialismo fracassou devido à natureza humana. Será? Se você quiser entender o socialismo, poderá ler a História da riqueza do homem, de Leo Huberman. Marx, Engels etc. já exigem mais disposição, mas se você quer MESMO entender como o socialismo dá certo, abandone a teoria e olhe à volta. O que vê? Capitalismo por toda parte? Engano seu...há um enclave socialista, diria até comunista, sólido, consolidado, bem abaixo de nossos narizes e essa obra, revolucionária, foi criada por um francês de nome curtíssimo: Bic.

            Ele é o inventor da caneta Bic. Não há nada mais comunista do que a caneta Bic. Quer ver? Se você não for encarregado do almoxarifado da empresa, for apenas um homem comum, responda: quantas Bics você comprou na vida? Quantas você já usou? Quantas usou DO COMEÇO ATÉ O FIM?

            Nas respostas está o segredo. Normalmente (a não ser que seja almoxarife ou tarado), você não comprou nem 5% das Bics que usou em sua vida. E elas vêm e vão mas não pertencem a ninguém em particular. São socializadas e ninguém se desespera ao ver que sua Bic sumiu (experimente perder uma Parker), pois tem certeza de que, em meia hora, outra estará caindo em suas mãos. Você vai ao banco, preenche um cheque, pede emprestada a Bic e a põe no bolso, saindo lépido e fagueiro para esquecê-la com seu colega de trabalho que pediu-a “emprestada”, mas recupera, logo adiante, outra, esquecida sobre a mesa...

            As Bics se encaixam perfeitamente na máxima marxista: “De cada um, segundo as suas possibilidades, a cada um segundo suas necessidades.” Quem pode (o almoxarife, por exemplo) compra muitas; quem precisa serve-se de acordo com a necessidade e todos ficam felizes.

Há maníacos pela propriedade que colocam tiras de papel no interior da caneta com seu nome. Só funciona – às vezes – se conhecermos o dono. Do contrário, olharemos para a caneta em nosso bolso e nos perguntaremos, lendo a tira de papel: “Quem, diabos, é Zwinglio Kelezogulu?”

            Depois, balançando a cabeça, embolsaremos a caneta. Sem culpa. Eu não disse?

                                                             

                                                            UTZERI, Fritz. Dancing Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2001.

 

3.      O texto se baseia numa comparação esdrúxula para confirmar sua tese de que o socialismo não está morto. Transcreva do 3º parágrafo uma frase em que esteja explícita a relação entre a caneta Bic e a visão socialista.

 

4.      Explique o mecanismo de coesão utilizado pelo autor para ligar o 2º parágrafo ao 1º.

 

(UNICAMP)

Veja os trechos:

 

- Fazendo sucesso com sua nova clínica, a psicóloga Iracema Leite Ferreira Duarte, localizada na rua Campo Grande, 159.

 

- Embarcou para São Paulo Maria Helena Arruda, onde ficará hospedada no luxuoso hotel Maksoud Plaza.

                                                          [Notícias da coluna social do Correio de Mato Grosso, 28/8/88]

 

5.      Escolha um dos trechos, diga qual é a interpretação “estranha” que ele pode ter e reescreva-o de forma a evitar o problema.

 

(UNICAMP)

O comentário seguinte faz parte de uma reportagem sobre o decreto assinado pelo (então) presidente José Sarney, tornando eliminatórios, no vestibular, os exames de língua portuguesa e de redação:

 

    “Os estudantes que pretendem ingressar na UNICAMP, no próximo vestibular, concordam com o decreto do governo. Estão reclamando, apenas, que a Universidade de Campinas está exigindo a leitura de um livro que entrará no exame inexistente no Brasil: A Confissão de Lúcio, Mário de Sá-Carneiro.”

                                                                                                        Isto é Senhor, 14/9/88.

 

6.                  Conforme redigido, o texto contém uma passagem ambígua. Identifique essa passagem, transcreva-a e explique por que ela é ambígua. Em seguida, reescreva-a de forma a tornar clara a interpretação pretendida pela revista.

 

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