ESTUDO
DIRIGIDO 4º BIMESTRE – DISSERTAÇÃO
v Neste bimestre, estudaremos a
DISSERTAÇÃO
Assista ao
vídeo e anote as principais características:
v Leia um texto dissertativo e as
observações feitas sobre ele:
A ESTRUTURA DO TEXTO
DISSERTATIVO
A Dissertação se caracteriza pela
defesa de uma ideia, de um ponto de vista, ou pelo questionamento acerca de um
determinado assunto. Para a fundamentação desse ponto de vista, o texto
dissertativo utiliza uma estrutura argumentativa, pois é a partir desses
argumentos que se justificará a ideia central da dissertação.
Em geral, para se obter maior
clareza na exposição de um ponto de vista, costuma-se distribuir o texto
dissertativo em três partes:
Introdução: em que se
apresenta a ideia ou o ponto de vista a ser defendido;
Desenvolvimento ou
Argumentação: em que se desenvolve o ponto de vista para tentar convencer o
leitor, usando uma sólida argumentação, com exemplos, citações, ou fornecimento
de dados;
Conclusão: em que se dá um
fecho ao texto, coerente com o desenvolvimento, com os argumentos apresentados.
A elaboração de uma dissertação
não está centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa
de ideias, logo não se justifica o uso exagerado de figuras de linguagem em um
texto dissertativo, pois os sub-textos que a linguagem figurada cria pode, de
alguma forma, esvaziar o poder argumentativo do texto.
A seleção de argumentos e ainda a
forma de argumentar serão decisivos para a estruturação e o sucesso do texto. A
consistência da dissertação se deve, basicamente, à consistência dos argumentos
escolhidos para defender o ponto de vista. A esse ponto de vista damos o nome
de tese.
Acerca de um tema podemos obter
vários pontos de vista diferentes. Por isso, é fundamental que se eleja, antes
de tudo, a tese que será defendida a respeito daquele tema. Definida a tese,
podemos selecionar os argumentos mais contundentes que possam sustentar a tese
que se pretende defender.
Uma argumentação sustenta-se
basicamente de quatro maneiras:
argumentos de valor universal
- aqueles que são incontestáveis. Se dissermos, por exemplo, que sem resolver
os problemas de família não se resolvem os das crianças de rua, vai ser difícil
alguém contradizê-lo;
dados colhidos na realidade
- as informações têm de ser exatas e do conhecimento de todos. Informações
falsas ou sem respaldo suficiente não convencem ninguém;
citações de autoridade -
neste caso, o embasamento pode vir dos principais autores sobre o assunto. É
importante ler muito e se informar;
exemplos e ilustrações -
recorrer a exemplos conhecidos, de domínio público, ajuda a fortalecer a
argumentação.
Veja um bom exemplo de um texto
dissertativo:
"A empregabilidade em
ambiente de globalização"
A revolução da
tecnologia da informação, a uniformização mundial dos padrões de consumo e as
facilidades de comunicação e de transporte viabilizam o planeta, e não mais um
país ou continente, como o espaço econômico disputado pelas empresas. Fluxos
internacionais de informação, de capitais e de mercadorias, bem como a
intensificação da competitividade, são a tônica da economia globalizada.
Esse contexto
está provocando rápidas e profundas alterações nos perfis profissionais
exigidos pelas organizações. De início, educação básica completa tornou-se
requisito imprescindível para o trabalhador comum habilitar-se a qualquer
colocação, mesmo que não especializada. Flexibilidade, multifuncionalidade e
capacidades de raciocínio e decisão também são competências crescentemente
requeridas. Em atividades de maior qualificação, onde é ainda maior a
obsolescência de conhecimentos técnicos, o profissional deve adotar a postura
do aprendizado permanente, mantendo-se sempre atualizado e capacitado a
acompanhar as transformações do mercado.
Tal
empregabilidade é, portanto, o conceito-chave no mercado de trabalho
contemporâneo. Significa criar e renovar, a cada dia, competências e
habilidades profissionais, incluindo, não somente o domínio técnico de novos
sistemas e tecnologias, mas também o aprimoramento contínuo em campos como a
negociação, línguas estrangeiras, relacionamento interpessoal e compreensão de
valores de outras culturas e etnias.
As exigências
atuais são tão intensas que Chivenato sugere, inclusive, a possibilidade da
existência de "uma verdadeira seleção natural de espécies
profissionais", referindo-se ao conceito darwiniano de luta pela
sobrevivência. Nesse ambiente de feroz competição, o profissional moderno
precisa, para garantir sua empregabilidade, ir além, colocando-se à frente das
mudanças e tornando-se o agente de transformações que cria novas vantagens
competitivas para ele próprio e para sua empresa.
[Redação de um candidato ao
mestrado de Administração da Fundação Getúlio Vargas]
Repare que na introdução já se
percebe o tema a ser desenvolvido: a empregabilidade no mundo globalizado.
Para embasar o conceito de empregabilidade e deixar claro o corte que será
feito sobre assunto, cita-se Chiavenato, autor que escreveu sobre este tema. É
a importância da leitura de vários tipos de texto que está sendo posta em
prática aqui.
Nos parágrafos 2, 3 e 4 vemos o
desenvolvimento da argumentação. O parágrafo 2 desenvolve a idéia de que "fluxos
internacionais de informação, de capitais e de mercadorias, bem como a
intensificação da competitividade, são a tônica da economia globalizada";
o parágrafo 3 traz como tópico frasal a idéia de que "o profissional
deve adotar a postura do aprendizado permanente, mantendo-se sempre atualizado
e capacitado a acompanhar as transformações do mercado". E
parágrafo 4 centra-se na visão de que "tal empregabilidade é,
portanto, o conceito-chave no mercado de trabalho contemporâneo."
Veja que esses argumentos servem
de sustentação para a tese que se encontra na conclusão do texto: "o
profissional moderno precisa, para garantir sua empregabilidade, ir além,
colocando-se à frente das mudanças e tornando-se o agente de transformações que
cria novas vantagens competitivas para ele próprio e para sua empresa."
Um texto dissertativo, ao
contrário de uma narração, não apresenta uma progressão temporal; os conceitos
são genéricos e não se prendem a uma situação de tempo e espaço, por isso o
emprego de verbos no presente. Outra marca sintática é o uso da 3ª pessoa,
preferivelmente, pois se trata de uma linguagem sóbria, denotativa.
Perceba, também, nesse texto, o
correto emprego dos conectivos encadeando os parágrafos. Esse mecanismo é
fundamental para deixar o texto claro e coeso.
Agora, veja uma proposta
de produção textual do vestibular da PUC-RJ
PUC - RIO 2015
Produza um texto
dissertativo-argumentativo – com cerca de 25 linhas e título –, em terceira
pessoa, comentando a frase do naturalista escocês/norte-americano John Muir
(1834-1914): “O poder da imaginação nos faz infinitos”, seja para
concordar com ela, seja para contradizê-la. Além disso, deve-se citar algum
pensamento, frase ou ideia do artigo abaixo, inserindo a fonte de
referência em seu texto (Marcelo Gleiser, no texto “A festa da imaginação”...).
A festa da imaginação
Marcelo Gleiser1
Quando era garoto,
costumava passar as férias de verão na casa dos meus avós, em Teresópolis, uma
cidade na serra dos Órgãos, perto do Rio. Eram 80 km de viagem, os últimos 25
km atravessando montanhas, uma sequência espetacular de picos de granito. O
Fusca do meu pai subia com muito esforço. Mas pouco me importava: torcia mesmo
para que o carro avançasse bem devagar. Assim, tinha mais tempo de olhar pela
janela, acompanhando a incrível transformação do cenário, do caos urbano de
Copacabana às montanhas sublimes, recortadas por centenas de milhões de anos de
erosão, revestidas aqui e ali pela inigualável mata atlântica. Para meus olhos
de criança, a transformação da cidade em montanhas, dos prédios no majestoso
Dedo de Deus, dos vasos de planta na explosão de orquídeas e bromélias, era
algo de mágico. [...] O Carnaval era sempre lá, na casa das montanhas. Minha
família escapava do calor e do buchicho, e íamos aos bailes vestidos de pirata
e de cowboy, pulando e marchando ao som da banda ao vivo. Era uma grande festa
da imaginação, cada um sendo o que queria ser, mas não podia. Crescer é perder
a capacidade de imaginar que o imaginado é o real; é erguer cada vez mais a
muralha entre a realidade e a imaginação, ficar sensato, esquecer-se de manter
a mente aberta para contemplar o impossível.
Nessas horas de
nostalgia entendo por que acabei virando cientista. Queria ter uma vida em que
a imaginação não é aprisionada pelo bom senso. É bem verdade que nenhuma
criança pede para se fantasiar de Einstein ou de Santos Dumont – se bem que já
saí com a Unidos da Tijuca vestido como o dito cujo. Mas poderiam: um
reinventou o que é o espaço e o tempo; o outro inventou como podemos voar. São
exemplos de pessoas que cresceram se recusando
a crescer, ao menos
sem erguer uma muralha intransponível entre realidade e imaginação. Pelo
contrário, mostraram que é possível transformar a realidade em algo
aparentemente mágico usando justamente a imaginação.
É esse o aspecto mais
cativante da ciência, recriar o mundo. Imagino a cara do meu avô se me visse
falando num iPhone, ele no Rio e eu em Teresópolis; ou se usasse o seu GPS para
evitar o trânsito na avenida Brasil; ou se olhasse para o céu noturno e
vislumbrasse satélites cruzando a escuridão; ou se visse imagens de mundos
distantes, trazidas por telescópios espaciais.
Que mundo mágico esse em que vivemos,
hein, vô? E que pena que pouco ligamos para essa mágica toda ou paramos para
refletir que ela vem justamente dessas pessoas que têm um compromisso aberto
com a imaginação.
GLEISER,
Marcelo. A festa da imaginação. Folha de S. Paulo, 8 de agosto de 2014.
Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/154556-a-festa-da-imaginacao.shtml>.
1 Marcelo Gleiser é
escritor e professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA).
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